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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

II Jornada Literatura e Espiritualidade na UnB - vídeo

Caros leitores.

Compartilho com vocês o vídeo sobre passagens do evento II Jornada Literatura e Espiritualidade promovido pelo Grupo Estudos Literários Magrebinos Francófonos.
Este evento que acontece pela segunda vez na Universidade de Brasília é uma iniciativa do Grupo de Estudos Literários Magrebinos Francófonos que este ano contou com a participação do Grupo Literatura e Sagrado na sua composição. A marca fundamental do evento é a análise e apresentação dos aspectos do sagrado no texto literário. Assim, textos de diversas literaturas são estudados à luz de diversas religiões como o cristianismo, o islã, o judaismo, entre outras!
Segue o vídeo. Aproveitem! 

Um forte abraço e tudo de bom
Cláudia Falluh Balduino Ferreira

https://www.youtube.com/watch?v=mo7Wd3I0ELw





quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Vinte mil visualizações do Blog Literatura Magrebina Francófona, ou a literatura como um instrumento de cultura interior.

Estimados leitores, saudações!



     A divulgação e reflexão sobre literatura é, acima de tudo, um prazer, e assim combina, como quero e acredito, com o dizer de Gustave Lanson, "A literatura está destinada a nos legar um prazer, mas um prazer intelectual, de vez que está ligada ao engenho de nossas faculdades intelectuais, faculdades estas que, a seu contato saem fortificadas, leves, enriquecidas."

     Estes últimos anos foram de intensa atividade  de pesquisa e o Blog Literatura Magrebina Francófona, meu canal preferido, meu tipo inesquecível!
Concebido e inteiramente montado por mim, ele tem trazido reflexões importantes sobre a literatura árabe de expressão francesa: literatura dos árabes falantes de francês. 
Mão de Fátima. Amuleto.

     Deste lado do Atlântico, contudo, o mundo magrebino pouco ressoa além das páginas turísticas: são as praias de Agadir, os crepúsculos de Marraqueche, os souvenis de Casablanca, a medina de Argel, branca e suave. 
     Mas o Magreb literário é outro. Não menos belo, tampouco, simples. O exotismo fragmenta-se em uma verdade que a palavra transporta dos velhos pátios mouriscos para o interior das páginas da literatura magrebina. Nelas entramos, com pudica reserva dos que atravessam os portais das primeiras páginas, como o visitante que perpassa os portões das casas magrebinas, para boqueaberto admirar o mundo colorido, refrescante e aprazível das moradas marroquinas, suas fontes, seus relógios solares, seus brocados e cetins internos. 
     Mas que não se iluda o leitor. Nada é dado de graça. A casa é um arquétipo astuto e misterioso. É lar, mas é também porões e sótãos. É morada, mas é também cozinha angustiosa, quartos solitários, esquecidos, trancados para sempre, chaves ocultas, cadeados infames, clarabóias especulares e infinitas. A casa-literatura magrebina é austera morada de fé e pecado, de mulheres e homens perpassados por paixão, êxtase, mas também culpa, é terraço aberto ao céu e ao raio, é belvedere onde se ama e se chora, reservando para o final a contemplação do destino e do horizonte derradeiro. Cabe ao leitor descobrir a chave, desvelar passo a passo a casa, fôlego contido, respirar aliviado porta a porta  e, temeroso com os rangidos e tremores, finalmente entrar. 
    Cabe ao leitor deixar passar os ventos da memória, da erudição, da curiosidade. 
  Já ao autor cabem as armadilhas, as tocaias, os degraus traiçoeiros, os escuros indecentes, a transparência vítrea das verdades da fé, do amor e do ludismo, ou da escravidão. 
     Essa é a literatura árabe magrebina com a qual tenho lidado.
   Espero que esteja sempre por aqui, caro leitor, a descobrir nos nomes ofertados e a devotar à descoberta dos textos um olhar no grau daquele lançado ao objeto de amor que temos e que, ora nos escapa, ora nos fastia, porque é etéreo, efêmero, infinitamente constante e inconstante, impermanente e eterno, ou seja, plenamente literário.

     Meu abraço agradecido pela sua visita que compôs vinte mil olhares.

     Cláudia Falluh Balduino Ferreira

terça-feira, 25 de novembro de 2014

II Jornada Literatura e Espiritualidade, na UnB.



               Onde está o sagrado no mundo atual?
         Nestes duros tempos de decadência em que vivemos o sagrado é escândalo, por muitos ignorado, por outros tratado apenas no escuro do quarto, em períodos de crise vivencial, quando torna a alma aflita para Deus em busca de soluções. Isso quando alma há...Para outros Deus modernizou-se assim como Sua palavra, a tal ponto que dela se servem em edições revistas e ampliadas, que servem ao coração humano em suas infinitas chagas, ou como escusas ao ato, que de tão moderno se faz desconhecido, mas não para Deus.
            Seja como for, as relações tecidas entre o sagrado e a humanidade a cada vez mais parecem esconder-se, desaparecer, eu diria, diante da sofreguidão com que o homem recorre à violência, essência humana, matriz de males e temas, para resolver os intrincados e constantes, imperecíveis e eternos jogos do poder, pai do ego, primo irmão do desejo.
           Indefinível, o sagrado é sentido, qual corrente elétrica, muito mais em seus efeitos, nunca por sua exposição. Mas estará o homem moderno disposto a acolher suas manifestações na atualidade das horas? E nestas horas atrozes, quem responde pela busca sacra, quando somos tragados por tecnologias e avanços, razão em busca de luz, e luzes que se desfazem em trevas, trevas do espírito em versão numérica, tratado em inglórias repetições de erros bélicos, científicos,mordazes como químicas solventes e e nadificadoras? Quem colhe hoje do bem e da graça benfazeja do sagrado? 
          Enquanto pensamos, há quem recorra a fórmulas antigas para adequar a inquietação do mistério às confecções do espírito criado criador. Falo do homem e da literatura. Dentro desta díade leal e purificadora, desta composição antiga e eficaz o homem considera sua ligação e religa, estipula seus limites para transcendê-los através da palavra poética, do texto em suas urdiduras às vezes vorazes, às vezes tênues, em que a duplicidade da condição humana surge aliando-se e coordenando-se com as fontes sutis do sagrado, da religião, da espiritualidade em sua dimensão total, porque unidos estão os artefatos da arte com a inspiração superior.
                  Literatura e espiritualidade. Dia 27 de novembro na Universidade de Brasília, é uma chamada ao texto em sua prioridade sacra.



domingo, 9 de novembro de 2014

Tombeau d'Abdelwahab Meddeb

                                 
                       

                   "Quelqu'un, ô Héracle, m'as dit ton trèpas et m'a plongé dans les larmes."
                                                                                                      Calímaco de Sirène



Savant-mystique.
                                                                       Pour Abdelwahab.

Oh, nuit généreuse,
Laisse-moi être la servante,
De celui qui sert le Donateur.

Sous le ciel mystérieux du  plateau,
Une bibliothèque nous accueillera.
Je  guiderai sagement ce qalam de noblesse,
Entre les pages d’un livre occulté,
Pour qu’il  y trouve le texte profond,
Caché dans  l’eau pure d’un puit
Habité de djinns, anges et nymphes,
à le recevoir en fête,
à l’installer, commode.

Il  le feuillettera, délicat, ce livre,
jusqu’à ce que la page s’ouvre,
offrant sa soie
à la joie du serviteur.

Il va, judicieux, écrire,
Et, enivré, lire
et perfectionniste,  conjuguer,
et insatiable, décliner,
et  rigoureux, répéter,
et en transe relira vite ce texte-reine,

L’apprenant  par coeur,
Il pause, respire,
Et  ferme à demi les pages fatiguées,
Pour recommencer, sans regarder la face du livre,
Lentement le rouvrir,
Méthodiquement mouvementer le qalam,
Et ponctuer l’épilogue,
De l’encre pure d’une euphorie de minute,
Et du feu triste d’une lecture finie.

Oh, nuit généreuse,
Laisse-moi être la servante,

De celui qui sert le Donateur.

par Cláudia Falluh

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Literatura Magrebina Francófona. Littérature Maghrébine Francophone.: Anátemas do mundo árabe.

Literatura Magrebina Francófona. Littérature Maghrébine Francophone.: Anátemas do mundo árabe.:              Salima Aït-Mohamed é uma jornalista, escritora e poeta argelina. É também calígrafa, e esmerou-se na arte de reproduzir a ...

Anátemas do mundo árabe.

         
   Salima Aït-Mohamed é uma jornalista, escritora e poeta argelina. É também calígrafa, e esmerou-se na arte de reproduzir a escrita bérbere tifinagh, uma das mais antigas escritas da humanidade.
Nascida em Ath Eurvah, na Cabilia, região argelina, Salima é a autora deste surpreendente texto sobre o alcance das forças tenebrosas que flagelam o mundo árabe também sobre o Magreb.  
      Os povos argelinos sofreram barbaramente durante 130 anos na mão do colonizador francês. Veio a independência em 1962. Os dias atuais, todavia, renovam a sanha sanguinária de sectários que confundem harâm et halâl espalham novamente o terror sobre aqueles que se acreditavam apaziguados de passado.

        Segue o belo texto com o qual Salima Aït Mohamed nos presenteia, nestes tempos de tristeza no Oriente.

Caligrafia tifinagh
       Abraços a você, querido leitor.
       Cláudia Falluh
'Anathème
par : Salima Aït-MohamedJ'espérais me reposer, je me suis surprise à écrire dès l'aube. Cet évènement dont l'amertume relèverait d'une allégorie, n'est qu'un nouvel épisode, tristement réel, composant la parade contemporaine de nos tourments. Avec une curieuse impression d'avoir déjà assisté à ce déluge. Je me demande si ces mots seront utiles, s'ils réussiront à éteindre notre inquiétude, s'ils parviendront à rendre  justice à notre exil.
Nous sommes jeudi. Plutôt, vendredi. Je crois que tous les jours finissent par se ressembler en ce pays lunaire, sanguinaire et nécrophile. En promesse de poussière et d'abus, en règne d'absolu tumulte. Nous accusons le chaos qui s'annonce inévitable. Nous cherchons dans nos grimoires et vieux manuscrits l'explication de la fatalité. En vain. Nous aurions  pu nous en méfier, quand pour la première fois sur cette terre autrefois olivâtre, nous ouvrîmes les portes aux messagers d'Anathème. Pourrions-nous un jour changer le COURS des choses et renverser cet incommensurable malheur !
Ils n'avaient plus le temps d'hésiter. Frappés par le péché. Piégés par la gravité du bannissement et de la disgrâce. Contraints de rejoindre un camp de servitude sur un territoire millénaire et reçu de leurs aïeux. Abusés dans leur offrande et dans leur optimisme.  Les voilà jetés, face à des êtres aveuglés par la violence des sentences innombrables et enfilées en chapelets de rancœurs sur des sabres aigus et stridents. Ils se précipitaient dans le désarroi de leurs pas et dans la folie de leurs saisons trahies, vers des geôles qui poussaient dans le désert, sur d'anciens remparts. Puérils  et francs, ils n'avaient pas vu venir le cataclysme. Ils n'avaient plus le temps de s'interroger à propos du joug qui leur était réservé. Il ne leur restait plus de temps pour réaliser leur perte, pour se regarder partir, injuriés, expropriés et blessés. Laissant derrière eux, leurs siècles ciselés de foi colorée et leurs oratoires marqués d'élaboration dévouée. Où sont passés leurs saints protecteurs, leurs lanternes, leurs marabouts et leur soleil affranchi !
Harnachés de haine noire et frénétique, dégoulinants de fiel, ils vocifèrent des mots contaminés et des ruines. Ils avancent en trombes dévastatrices vers les temples et les pierres sacrés, avec la ferme et acerbe intention de les réduire en cendres, avant d'y enraciner leur bannière morbide. Obsédés par la lumière des prières, qu'ils voulent  ravir, puis anéantir. Savent-ils ! La lumière ne se prend pas, ne se décompose pas, ne se simule pas, ne se refait pas. La lumière se forge à souffle d'effort et de persévérance. La lumière s'offre à qui cultive l'être d'amour et d'innocence. La Lumière se dévoile dans l'ardeur, dans la paix et dans la légitimité. La lumière se mérite. Elle ne s'arrache pas, elle ne s'abuse pas. Et aucun voile ne parvient à recouvrir totalement la lumière. Mêmes les voiles les plus épais, les plus lourds et les plus sombres.
Sur chaque contrée traversée, les autochtones, les dévots, les différents, les gardiens de temples, les hommes libres, sont sommés de détruire leurs instants paisibles, car la tyrannie prit d'assaut les cités ensommeillées, les joyaux du monde. Les splendeurs nourries de fraternité et de sagesse allaient s'évaporer. Affaiblis, les hommes trahis s'accrochèrent à l'ombre du souvenir qui demeurait des mausolées. Babylone, sublime, assista, sans  mot dire, à leur départ injuste. Et La Kahéna indomptable se souvint, non sans regret, de cet instant premier où elle crut à l'amour absolu, où elle se livra dans la beauté extrême et dans la candeur ambrée de son sein. Son courage ne suffit pas à retenir le gouffre. Elle se dît qu'il n'y avait désormais d'absolu nulle part. Même pas en amour. Le sien était pourtant si vaste et si solide. Il couvrait toute l'Afrique. Mais que reste t-il de l'Afrique !
Après Bouddha, aujourd'hui, c'est le tour de Jonas de subir les foudres de l'obscurantisme. Pauvre prophète, réveillé brusquement de son repos millénaire pour répondre à la convocation d'une névrose instantanée ! Il vit se composer une macabre transe de pillage, d'effritement, de démence totale. Demain, viendra le tour de Zoroastre. Sans trêve, sans scrupule, les défunts seront tous ressuscités pour répondre de leur Histoire, ceux qui parmi eux portent le signe de la connaissance, seront alors damnés ! Désormais, il n'y aura ni répit, ni poésie, ni manuscrits, ni tombeaux, ni lieux saints. Le ciel obscur décrété nous est ainsi imposé en unique et cynique conscience, il nous concentrera en piétinant nos différences, en annulant nos plus précieux mythes fondateurs et il cèlera notre destin dans la soumission des dieux inventés. Combien sommes-nous de peuples à entendre :"Ils doivent se convertir, partir ou mourir !" Nous partons, Alors. Dans la honte, dans l'effroi et dans la déraison surtout. A-t-on un jour connu pareille tyrannie !
Dans l'escalade de leur furie, possédés, aliénés, porteurs de misère et de destruction, agars et transpercés d'interdits, pétris de terreur, ils  poursuivent pourtant, ils pourchassent, ils  menacent en psalmodiant des verts tranchants  et assassins. Ils sont en colère et en hargne, ils sont terrifiants et déterminés au sacrifice. Ils respirent à grande peine, ils célèbrent le culte de la mort. Ils ne supportent pas les sourires bleus et éclatants, ils ne tolèrent pas les chants mauves et libres. Hantés par l'écho des voix cristallines, qui bouleversent leur torpeur et révèle leur délire sidéral. Ils veulent  faire taire toutes les voix, ils veulent déporter ceux qu'ils ne comprennent pas, surtout ceux qui les ont précédés. Il semble qu'ils craignent même les silences. Leur escalade acharnée qui dure depuis quelques siècles a fini de GAGNER le monde. Qu'adviendra t-il du monde !
Ainsi, au soir du doute, alors que les femmes faisaient lumière, par un chant de henné,  des hordes de barbares surgirent des quatre coins du désert, accomplir le fin du monde, pour suspendre la féminité et briser le désir de liberté. Ils voient en elles des diables à vaincre, des lueurs à éteindre et une liberté à dévaster. Car, ils ont aussi peur des femmes. Ils sont obsédés par la plus infime partie  des CORPS DES FEMMES. Comme s'ils pouvaient s'y noyer.C'est pour cela qu'ils cherchent à effacer les femmes autant que les vieilles pierres qui leur rappellent l'ampleur de leur ignorance, de leur souillure, de leur évanescence. Ils projettent la haine qu'ils cultivent d'eux-mêmes sur les sanctuaires de notre provenance, car eux, ils ne viennent de nulle part. Ils aiment piller notre histoire, car  leur légende est sordide. La racine profonde de leur violence tient du chaos le plus intime qui rumine au plus profond d'eux-mêmes. Ils ont  peur des femmes, comme ils ont peur de la vie.
Nous fixons de nos yeux effrayés leurs gestes incohérents, démesurés, menaçants et putrides de ces individus scellés dans la barbarie. Ils disent combien la colère les a abimés et combien la conversion les a  annihilés. Victimes d'eux-mêmes d'abord, ils s'extasient de propager la violence et jouissent de la mise à mort de l'Humanité, la leur ayant été effondrée, sans nul doute. Les mains chargés d'armes, d'instruments de torture, d'injures et d'abjections,  ils pèsent sur le sable comme ils pèsent sur l'histoire de leurs corps pétrifiés et nauséabonds.
Nous fixons leur regard fuyant, humilié et obscurci. Nous en décelons tout le décombre perverti. En proie à des démons enflammés, ils ressassent le supplice de la mort, pressés de rejoindre leur dessein, un mirage qui fonde et construit la récompense de leur certitude : Des centaines de vierges à violer ! Comment peuvent-ils croire à un paradis aux allures d'un lupanar !
Quant à elles, pour résister, elles abolissent le verbe voiler. Elles ouvrent grandes leurs portes et leurs lucarnes. Elles éclaircissent leurs voix pour que leurs chants illuminent le ciel. Elles réaffirment leur liberté de conscience et inaugurent leur désir d'existence. Demeurer dans les battements de la vie est leur choix, œuvrer pour le salut du poème est leur foi. Nulle révélation fantaisiste ne saurait ébranler leurs liens et leurs fondations. Et elles ne pourraient envisager de vivre sans aimer. Elles livrent bataille au dénigrement et à l’envoûtement. Bataille que le monde devrait écouter, s'approprier et porter. Ces femmes sont la clarté du don, le symbole de l'éveil, la lucidité et l'équilibre. En cette frontière d'espérance, les hommes aiment  leurs femmes. Ils  aiment leurs enfants et prennent  soin des êtres fragiles. Ils adorent leurs vieilles pierres et se souviennent de leurs sanctuaires. Tous aiment la vie, et construisent l'amour. Car,  ils doivent à l'amour leur renaissance.
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Fonte: http://www.recoursaupoeme.fr/chroniques/lanath%C3%A8me/salima-a%C3%AFt-mohamed#sthash.4aVwTVWU.dpuf 

Salima é autora das seguintes obras: 
  • " Alger, triste soir », poésie, Ed. Autres Temps, mai 1996.
  • « Écrits d'Algérie, anthologie de poètes algériens », Ed. Autres Temps, septembre 1996.
  • « La cuisine égyptienne des pharaons à nos jours », Ed. Autres Temps, avril 1997, réédition en octobre 1998 et mai 2006.
  • « Contes merveilleux de la Méditerranée », Ed. Autres Temps, mars 1998.
  • « Contes magiques de Haute-Kabylie », Ed. Autres Temps, mai 1999, réédition en mars 2000.
  • « Poésie grecque contemporaine, des iles et des muses », Ed. Autres Temps, mai 2000.
  • « D'Alger et d'amour », poésie, Ed. Autres Temps, février 2001.
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Tahar Ben Jelloun em Arequipa: "A poesia é como a mulher amada, não se deve forçá-la a fazer amor...".

Como escolher as palavras ? Como elas chegam ao poeta? E ao poeta árabe que escreve em francês?
Na verdade as palavras vêm em ondas como o mar, ou surgem abruptas como pássaros ilegais?
Neste vídeo gravado em Arequipa por ocasião de conferência na Aliança Francesa, Tahar Ben Jelloun explica com humor e irreverência como nasce o poema. Um nascimento é motivo de alegria, portanto, alegrem-se com o poeta!
Bom proveito, leitores queridos!
Cláudia Falluh

sábado, 2 de agosto de 2014

"Nossos intelectuais são instrumentos do poder, são covardes", lança o poeta sírio Adonis.

Encontrar o lugar ideal da palavra em meio ao que acontece na Palestina atualmente, diante do massacre das crianças de Gaza não é fácil. 
Não é fácil para o cidadão comum emudecido e impotente em patética postura face à televisão e cada vez mais indignado, mas,  menos fácil ainda o é para os intelectuais, escritores e seres da cultura. Para eles é ainda mais duro e desfiador, porque é o momento em que ele terá que provar o valor do seu instrumento de trabalho : a palavra, a expressão, o verbo escolhido refinadamente, agora em meio aos escombros da linguagem que se faz frágil e inútil. Enquanto crianças e varões palestinos agonizam e tombam, o verbo, aliado ancestral em tempos de guerra e paz é atingido mortalmente pelos estilhaços da impotência carregada de indignação dos escritores e intelectuais do mundo inteiro.
Se a virtude da palavra, sopro do homem, portanto prima do divinal é cura e a redenção, onde estão as vozes a conclamar ao livramento um povo da extinção eminente perpetrada metódica e cirurgicamente pelo sionismo impiedoso e indiferente que ataca milimetricamente asilos, igrejas, mesquitas hospitais e usinas elétricas filhas-únicas? E se a palavra tem parentesco com o divino, 'voz do povo, voz de Deus', tememos achar que o até o divinal cansou-se das agruras palestinas. "Allah n'est pas obligé", lança um poeta africano. Porém o que mais o mundo ouve é o antigo verso bíblico, onde uma mulher, Raquel, encarna todas as mães palestinas neste momento. "Em Hamá se ouviu uma voz, choro e lamentos? É Raquel a chorar seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem" (Mt. 2:17) Certo, Hamá é uma cidade síria, ao norte de Damasco, que significa "fortaleza",  mas eu lhe pergunto, leitor: há diferença?

Adonis, à esquerda, e à direita o libanês Amin Maalouf, na FLIP de 2012
Mas há quem se indigne, e exasperado, trate duramente os intelectuais sobretudo os árabes não poupando palavras. É o escritor sírio Adonis. Octogenário, Adonis pertence a uma casta de intelectuais que está em extinção. Podemos pensar que é uma voz já cansada de não ver soluções para o mundo em que nasceu, portanto exclama sem medo, sua idade o autoriza... E esta força, autoridade e destemor é admirável nos anciãos! Que todos ouçam e reflitam e avancem em combate cada qual com suas armas. Oremos para que outra surja tão nobre e destemida, mas não estamos esperançosos. Não é tempo de esperança, hélas, é tempo de luta, por isso, com a palavra nem tão em frangalhos assim, o poeta Adonis.

Seguem extratos de sua fala, compartilhados do site Histoire et Société.

http://histoireetsociete.wordpress.com/
http://histoireetsociete.wordpress.com/2013/07/20/adonis-aux-intellectuels-arabes-vous-etes-des-laches/

« Nos intellectuels sont des instruments du pouvoir, ce sont des lâches! »
Et il dit cela en Algérie, aujourd’hui. Qui l’aurait cru ?
Ce vieux poète est allé en Algérie cracher ses vérités, vomir le fond de sa pensée et maudire les gouvernements arabes qui sont restés aujourd’hui à la traîne des nations. Des hommes politiques qui ont pourtant été parmi les libérateurs de leurs Etats du joug de la colonisation.
« Vers une résistance radicale et globale » conseille-t-il au public qui l’applaudit.
Une magnifique conférence sur l’impasse de la pensée arabe et la crise de modernité qui secoue les sociétés arabes. Sa venue a drainé un public fou, tant son discours est en rupture totale avec le politiquement correct, la langue de bois, et le discours officiel dominant.
D’emblée, il s’est attaqué à la question de la « nécessaire » sécularisation des pays musulmans.
« Je suis respectueux de l’islam. Je suis au-delà de toutes les religions, je vais au bout de toutes les spiritualités et des expériences humaines. Mais je suis totalement opposé à l’islam institution, à l’islam régime », dit-il.
De la provocation. De l’audace. Du courage, en veux-tu en voilà. Et ce n’est qu’un début, car le conférencier ne va pas mâcher ses mots. Il s’attaque aux régimes arabes, particulièrement ceux qui ont pris le pouvoir depuis la seconde moitié du 20e siècle et qui vivent un échec cuisant, car « ils n’ont pas pu libérer l’Homme et asseoir des Etats modernes basés sur le droit et le respect de l’individu. »
Il argumente sa réflexion en se basant sur la dure réalité à laquelle font face les populations arabes et musulmanes.
« Ces politiques ont des réflexes tribaux, ils nient l’individu et la liberté individuelle. Les élites politiques qui se disent progressistes et laïques, qui ont libéré leurs pays du joug de la colonisation, n’ont fait que perpétuer le clanisme et le népotisme et sont soutenus par des intellectuels, ce sont leurs complices !»
Adonis tire à boulets rouges sur ces « intellectuels » qui n’ont aucune valeur morale.
« Dans nos sociétés arabes et musulmanes, l’élite intellectuelle ne remplit aucun critère de probité morale qui lui permet d’être à l’avant-garde des changements nécessaires. C’est-à-dire la sécularisation de la société qui est au cœur de la crise de la modernité dans ces sociétés. »
Il va encore plus loin, écœuré et blasé par la situation actuelle, politique, culturelle, sociale et économique qui prévaut dans les pays arabes, ce poète hors normes vomit le fond de sa pensée et il le dit tel quel : « advienne que pourra ! »
Non mais vous le croirez ? Encore un bout :
« Les intellectuels dans le monde arabe manquent de courage, ils sont frileux lorsqu’il s’agit d’évoquer la question de la laïcité : le texte (le Coran) est constant, mais son interprétation change, or il n’y a aucun effort de questionnement théorique en la matière », déplore-t-il.
Ainsi, l’absence de pensée critique a coupé l’intellectuel arabe de la société, faisant de lui non pas un être autonome pensant par lui-même, mais un «instrument» au service des gouvernants. Comme tout ça est vrai. Il explique que le monde arabe est privé aujourd’hui d’une élite intellectuelle qui remettra en cause la pensée traditionaliste et les modèles tribaux.
« Nos sociétés sont sclérosées. Nous sommes absents de la carte du monde actuel et en marge du cours de l’Histoire », se désole-t-il encore.
Il s’en est pris violemment aux intellectuels arabes qui, selon lui, ont joué le jeu des régimes en place en remettant en cause le lien solide entre Etat et religion.
A la fin de la conférence, la Bibliothèque nationale a remis à Adonis une distinction. Son amie de longue date, Djamila Bouhired, s’est fait un plaisir de la lui offrir au milieu des applaudissements et des youyous.

sábado, 19 de julho de 2014

Do martírio palestino ao texto: a poesia árabe como forma de oração.


Quando escrevi Caligrafia da dor, a arte e o sagrado na poesia árabe sobre o mártir http://www.amazon.com/Calligraphie-douleur-po%C3%A9sie-martyr-Edition/dp/6131568650 imaginei  que minha inútil indignação contribuiria como gota no oceano, mas contribuiria sob forma depoimento sobre o conflito palestino, que sempre se mostrou ser uma chaga aberta da humanidade. Terra de derramamento de sangue, terra dos padecimentos do Cristo, a Palestina continuava em seu clamor ancestral, intensificado com a criação do estado de Israel em 1948. Mas o mundo seguia sua rota indiferente e hoje, tantos anos depois, o livro que originou de meu trabalho de doutoramento parece mais cruelmente atual do que eu jamais desejara.
É claro que a poesia nada pode contra a vida. É claro também que da vida pouco resta sem poesia. Mais claro ainda que a poesia sobre a dor, a tristeza e a perda pouco é poesia, mais é vida, mais é oração. Se a oração ganha os corações, breve ganhará as páginas, pois o coração do poeta é branco de linhas negras.  E se ganha o coração do poeta, é porque viu o mundo e viu a vida e a consequência é um misto das duas, em uma simbiose aguda e inseparável a poevida, ou a vidapoiesis.

É desta simbiose estranha e contumaz que surgiram os poemas de La remontée des cendres do marroquino

Tahar Ben Jelloun. Escrito em memória dos mártires do Golfo e do conflito palestino em 1992, o livro ressurge hoje atordoando a todos com sua velhinovice reformulada. Velho porque poesia; novo porque o conflito novamente aí está: o Iraque novamente vilipendiado, duplamente destruido, logo desaparecendo, e crianças palestinas às centenas sendo dizimadas sob os olhos tutelares e cínicos das potencias imperialistas do ocidente, que além de velhas, são hipócritas e sádicas.O assassinado de um jovem palestino Mohammed Abu Khudair queimado vivo em vingança ao assassinato de três adolescentes israelenses em 1º de julho de 2014 faz um coro funéreo com o poema sobre o rapaz Ali Saleh Saleh, de La remontée, executado em 1983.
Acusações, talião, revanche, neste clima as questões evoluíram até o que a presente se vê pela televisão: Gaza arde em chamas e luto, e todos nós, impotentes diante do fato.
Por isso a poesia, no caso a poesia marroquina de expressão francesa surge para transcender a desonra e a crueldade para dizer que o conflito palestino continua a girar rumo ao alto a pedra sacrificial e sisifiana. Mas haja poesia, que no fundo, é totalmente inútil se não se converter em oração...

Ali Saleh Saleh
29 de abril de 1983
Levaram o corpo dele enrolado em uma pele de carneiro
a cabeça e os pés nus ficavam de fora
brancos de poeira.
Lentamente seus membros deitaram-se no
            dia
O solo se abriu e o enlaçou num infinito
            abraço.
Ele tinha dezessete anos
Ali Saleh Saleh
Seu primeiro amor em Saída
foi a morte atada aos quadris da árvore.


Sobre Calligraphie de la douleur:

De quelle façon le poète arabo-musulman moderne hérite-t-il de la tradition artistique et religieuse du passé et les transforme-t-il en agents d'une poétique? A quel point le poète du présent et le monde du passé concilient un projet commun? Ce sont ces questions, entre autres, que ce livre cherche à éclairer visitant les élégies immenses et profondes de La Remontée des cendres, de Tahar Ben Jelloun, poèmes écrits sur la guerre du Golfe et le conflit palestinien. L'entrecroisement de la littérature et de l'art calligraphique et des arabesques, la question de l'image dans islam des débuts, guideront ce texte vers les origines et allieront l'histoire et la phénoménologie dans l'explication du sens propre de la poésie arabe moderne. Il s'agit d'une analyse de cette poésie qui répudie la banalisation de la douleur et rend hommage aux martyrs, visitant le tragique à la lumière transcendante des arts. Le poète et le calligraphe tissent les images et le monde par le biais du mot. Tous les deux captifs à jamais, non des dogmes, mais de la perception et du vécu.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Entrevistando Tahar Ben Jelloun : "A felicidade não precisa da literatura..."


O Grupo de Estudos Literários Magrebinos da Universidade de Brasília tem a satisfação de apresentar entrevista inédita com o escritor marroquino de expressão francesa Tahar Ben Jelloun.

     Tahar Ben Jelloun é um dos mais célebres e laureados escritores magrebinos de expressão francesa da atualidade. Apresentá-lo é percorrer dunas e dunas até um oásis, e no oásis, está a obra o âmago de sua construção literária, em restauradoras páginas de geniais narrativas, ainda que embebidas de um certo suor frio...
    Uma das exclamações mais intrigantes deste escritor sobre sua própria obra é quando diz "eu não comecei fazendo poemas de amor". Os primeiros poemas de Ben Jelloun foram marcados pela "ânsia de denunciar a mentira e a traição", referindo-se aos movimentos de repressão pelos quais passava o Marrocos naqueles anos 1967, ano em que o autor foi detido pelas forças de Hassan II. 
     Como entender que esta declaração sobre um momento da juventude possa ter marcado o principio de uma longa carreira? Pois no correr das águas, ou no folhear dos mais de trinta romances, a ausência das relações amorosas regradas pela harmonia e pela felicidade é notável. São os frutos do princípio que se espalham: a ausência do amor e de seus interlúdios felizes estão fora das páginas. Em seu lugar gritam o medo de amar, a recusar à entrega lúdica e apaixonada, surge a visão da mulher marroquina tanto como vítima e como algoz, como aracne que trucida amantes e maridos. Estes são os traços presentes na estratégia que guarda, espreita e ataca, que é a obra de Ben Jelloun, ainda que o autor crie também meninas sereias, que nascem da espuma do mar, mulheres que são ninfas, fadas e míticas imagens do mundo. Na obra de Ben Jelloun o amor se faz raro... Mas qual a razão? O autor explica nesta breve porém exclusiva entrevista que nos concedeu.


Cláudia Falluh e o escritor Tahar Ben Jelloun em entrevista inédita.

Cláudia Falluh - Votre travail est plein de référeces à l’amour entre l’homme et la femme à partir d’histoires où le bonheur est rare, voire éphemère et la perfide et la peur d’aimer sont présent comme de lourds élements de rupture mais aussi de rythme. L’amour est vu comme un fardeau ou une peine et le bonheur conjugal une ironie macabre?

Tahar Ben Jelloun - Le bonheur n’a pas besoin de littérature. Ça se raconte en quelques lignes ; il vaut mieux le vivre que l’écrire. Le romancier est celui qui fouille dans les bas fonds de la société et décrit ce qui empêche le bonheur. La littérature existe à cause de l’insatisfaction et autre frustration. Elle a ses limites et ne règlera pas les problèmes du couple par exemple, mais elle aidera à mieux comprendre les mécanisme de la stupidité humaine, de la lourdeur des prétentions et du rapprochement avec les énergies du Mal. Alors les rapports entre l’homme et la femme sont rarement sereins et clairs. Souvent l’un des conjoints se soumet dans l’espoir de contenter l’autre, or c’est le meilleur moyen de la perdre. L’amour n’aime pas la résignation, au contraire il se nourrit de conflits. Cela dit, le mariage n’est pas forcément l’ami de l’amour. On fait tous cette confusion entre les sentiments forts et le contrat social d’unir deux solitudes.

C.F -  Quel est l’espace amoureux dans vos écrits pour les êtres qui ont hâte d’être aimés mais, hesitants sinon témeraires et reculent devant la perspective d’aimer?
TBJ - L’espace amoureux existe dans mes romans mais il n’est pas essentiel. Encore une fois le bonheur dans la conjugalité ou ailleurs fait de la mauvaise littérature.

C.F - Parlez nous de la femme et cette femme moitié sorcière moitié humaine présente dans vos romans.  Vos héroines sont des representations de la rationalité islamique envers le féminin. Vos romans sont le mode definitif dont vous voyez la femme ?
TBJ -Quelqu’un m’a dit un jour « pour vous il n’y a que la maman et la putain ». C’est exagéré. Entre l’amour filial, la force irrationnelle de cet amour et la femme qui n’a pas d’affects, il y u un gouffre. Dans mes romans, petit à petit l’épouse est apparue. Elle est malmenée par sa condition de femme musulmane dominée par l’homme qui a tellement peur de la femme qu’il la couvre den haut en bas.
Dans « l’homme rompu » elle joue le mauvais rôle celui de la femme jalouse des voisines qui se font gâter par leurs maris corrompus. Elle ne comprend pas la résistance de son mari qui refuse par tous les moyens de toucher des dessous de table pour autoriser une construction illégale. En même temps ce mari rencontre une autre femme qui met les valeurs au-dessus de l’argent. C’est toujours complexe.

4 -Parler de littérature post-coloniale est devenu obsolete après les printemps árabes?
On attend tous le chef d’œuvre que produira le « printemps arabe », car il n’y a de littérature forte sans un grand malheur une tragédie derrière. Ce sera forcément un roman écrit en arabe, car ce sont aujourd’hui les Syriens qui vivent l’enfer et qui voient tous les jours leurs proches mourir, assassinés par un salaud.

5 - Existe-t-il une vie pour l’écriture après le roman “L’Ablation”? (Gallimard 2014) C’est un roman qui a surpris le public et surprise extrême.  Est-ce cela, l’acte de surprendre le lecteur un bélier ou bien une goute d’eau, sur le front d’un dormeur?

« L’ablation » a été une épreuve nécessaire pour avancer en littérature. Ecrire sur la maladie et la mort est une façon d’aller de l’avant. Ce n’est pas un livre facile, mais ce coup de tonnerre dans le calme plat de la vie, est utile pour des milliers d’hommes et de femmes qui doivent un jour ou l’autre affronter la maladie. C’est un livre sans concession, sans douceur, sans gentillesse ; c’est de la littérature pure, c’est-t- à dire directe, franche, cruelle.
Après ça j’ai écrit à la manière orientale des Mille et Une nuits les contes de Charles Perrault. Une façon pour moi de sortir de la noirceur et m’amuser en racontant des histoire à dormir debout !