Já nos contava Hesíodo, na Teogonia, que Gaia (a terra) cria para si um consorte, Urano, (o céu) e com ele estabelece uma grandiosa descendência: são os Titãs. Dentre estes filhos titânicos está uma Titânida: Mnemósine. No universo mitológico grego ela é a própria personificação da memória.
E o que é a memória? Podemos estipular cientificamente. Podemos também estabelecer categorias: memória pessoal, memória de fatos do passado, memória dos fatos do presente, memória de um povo, de uma família de uma casa, de um amor, de um ato da existência. Memória é a aquisição, conservação e evocação de informações. Distanciemo-nos dos gregos e caiamos no XVIII, e veremos Voltaire dizer, muito sabiamente: "Ce qui touche le coeur se grave dans la mémoire".
Se a memória é a faculdade de conservar e de lembrar-se de estados de consciência passados ou associados, e se podemos considerar também a memória no sentido amplo como cabedal cultural e histórico de um povo, veremos que muitas vezes a mulher é a fonte, entre muitos povos, da lembrança do vivido, aquela que luta para que a memória não se perca. Na luta contra o esquecimento e na renovação constante do vivido na amplitude alucinada e dinâmica do presente, surge a mulher. Não somente no mundo grego, cuja guardiã da memória é uma divindade feminina, Mnemósine, mas em todos os círculos das civilizações, está a mulher com sua presença às vezes amedrontadora pelo tanto que sabe, quanto apaziguadora, pelo tanto que pode curar com os frutos maduros da experiência de todos: o rememorar e o lembrar.
Platão dirá que rememorar é para os que esqueceram, mas os perfeitos não perdem jamais a visão da verdade e não necessitam rememorar. Já Plotino dirá que "recordar é para quem esqueceu", pois os perfeitos, lembram-se.
O grupo de Estudos Literários Magrebinos da UnB quer apresentar como pertencendo ao universo literário argelino ligado a lista dos "cultivadores da memória" apaixonados pela história de seu povo e de seu país, a escritora Fatima Kadi-Bakhaï. Em recente passagem pelo Brasil, Fátima instigou a curiosidade do Grupo de Estudos Literários Magrebinos sobre sua obra, sobre o fazer literário feminino. A meu ver esta especialíssima escritora argelina encarna essa figura feminina grega e de todos os tempos e de vários povos que em algum momento da vida atravessa o nosso caminhos e diz: Foi assim. Somos assim porque começamos assim e passamos por este e este episódio que marcou nossa existência. Cada um de nós é quem é porque tem suas próprias memórias.
Fátima Kadi-Bakhai nos presenteia com uma entrevista em que relata o seu papel ao escrever trilogia Izuran, uma saga em que a memória está sempre presente, memória de um povo através do amor de uma mulher pelas suas raízes.
Cláudia Falluh: Fatima, vous pouvez nous parler un peu de la trilogie Izuran, (Izuran I, Au pays des hommes libres, Izuran II, les enfants d'Ayye, Izuran III, La sublime porte. Alger: Editions Alpha. 2010.) Comment la mémoire surgit pour vous et qu'est-ce qu'elle représente dans vos romans?
Fatima Bakhai: Voici ce que j’ai écrit en exergue du roman '”Les enfants d’Ayye” (Ayye est le terme que l’on emploie pour désigner affectueusement une vieille dame que l’on aime, en général la grand-mère...) Ce roman est le second tome d’une trilogie qui a pour titre Izuran. Izuran signifie en berbère “Racines” Cette trilogie est une saga qui raconte l’histoire du peuple algérien depuis le néolithique jusqu’à la veille de l’occupation française. Après, l’histoire est plus connue et j’en ai traité dans d’autres romans. “L’histoire de mes ancêtres n’intéresse sans doute que moi. Les autres descendants ne veulent pas la connaitre. Cette histoire les gêne. Elle les oblige à se regarder sous un autre angle...qui les dérange! Ils préfèrent la stabilité et le confort d’une histoire immédiate qui occulte les épopées vécues par ces aïeux dont on ne revendique pas la mémoire: une réticence atavique, comme un secret honteux dont on ne connait plus très bien les détails et dont la seule évocation sème un trouble diffus que ll’on s’empresse de nier! Génération après génération, depuis l’aube des temps, ils ont pourtant vécu ces ancêtres, emportés par la tourmente d’un destin qu’ils n’avaient pas prévu. Trop peu nombreux sur une terre immense, trop rebelles à toute autorité, ils n’ont pas su, pas pu s’unir. Ces Imazighen, ces “hommes libres” comme ils aimaient à se désigner, n’osaient pas s’affranchir de leurs tribus. Ils se battaient pour des libertés qui engendraient la dépendance. Mais, s’ils ont été souvent vaincus, ils n’ont jamais perdu leur âme...”
Cláudia Falluh: C'est grâce aux historiens et à la littérature que l'histoire d'un peuple peut être toujours revisitée. A votre avis, Izuran, entre réveille la mémoire des Algériens, envers son histoire richissime qui antecède la conquête musulmane, mais qui risque de se perdre?
Fatima Bakhaï: C’est un des problèmes des algériens: ne pas s’approprier leur Histoire dans son intégralité! C’est à dire aller au-delà de la conquête musulmane! Dans Izuran j’essaie par le biais romanesque d’expliquer d’où viennent par exemple certaines de nos traditions, de nos coutumes etc... Je ne suis ni historienne, ni ethnologue bien sûr. Je ne passe pas par la science mais par l’émotion. Je ne me sens investie d’aucune “mission par rapport aux ancêtres” mais il me semble que savoir d’où l’on vient, qui on est vraiment, réconcilie, unit et aide à aller de l’avant.
Com extrema gentileza, Fátima Bakhai enviou-nos um belo texto que os leitores poderão ler abaixo, um conto para crianças "L'oiseau aux mille couleurs". Fatima nos diz a respeito deste conto:
Fatima Bakaï: . Quant aux histoires pour enfants qui ont un but clairement éducatif je ne résiste pas à vous envoyer l’une d’elles que j’ai écrite en pensant au Brésil alors que rien ne prévoyait mon voyage!
É para junto deste universo de emoção, verdades e história argelina, assim como fantasia de mil cores para crianças que convidamos o leitor deste blog. Aproprie-se deste excelente texto que a autora argelina nos envia e faça uma bela viagem por esta história emocionada, narrada por uma voz feminina.
Grand merci, Fatima Kadi-Bakhaï! Vous êtes toujours la bienvenue au Brésil!
Outros romances de Fatima Bakhaï:
Oran après la mer, (Après la Lune, 2011)
Dounia. ( L'Harmattan)
Se a memória é a faculdade de conservar e de lembrar-se de estados de consciência passados ou associados, e se podemos considerar também a memória no sentido amplo como cabedal cultural e histórico de um povo, veremos que muitas vezes a mulher é a fonte, entre muitos povos, da lembrança do vivido, aquela que luta para que a memória não se perca. Na luta contra o esquecimento e na renovação constante do vivido na amplitude alucinada e dinâmica do presente, surge a mulher. Não somente no mundo grego, cuja guardiã da memória é uma divindade feminina, Mnemósine, mas em todos os círculos das civilizações, está a mulher com sua presença às vezes amedrontadora pelo tanto que sabe, quanto apaziguadora, pelo tanto que pode curar com os frutos maduros da experiência de todos: o rememorar e o lembrar.
Platão dirá que rememorar é para os que esqueceram, mas os perfeitos não perdem jamais a visão da verdade e não necessitam rememorar. Já Plotino dirá que "recordar é para quem esqueceu", pois os perfeitos, lembram-se.
O grupo de Estudos Literários Magrebinos da UnB quer apresentar como pertencendo ao universo literário argelino ligado a lista dos "cultivadores da memória" apaixonados pela história de seu povo e de seu país, a escritora Fatima Kadi-Bakhaï. Em recente passagem pelo Brasil, Fátima instigou a curiosidade do Grupo de Estudos Literários Magrebinos sobre sua obra, sobre o fazer literário feminino. A meu ver esta especialíssima escritora argelina encarna essa figura feminina grega e de todos os tempos e de vários povos que em algum momento da vida atravessa o nosso caminhos e diz: Foi assim. Somos assim porque começamos assim e passamos por este e este episódio que marcou nossa existência. Cada um de nós é quem é porque tem suas próprias memórias.
Fátima Kadi-Bakhai nos presenteia com uma entrevista em que relata o seu papel ao escrever trilogia Izuran, uma saga em que a memória está sempre presente, memória de um povo através do amor de uma mulher pelas suas raízes.
Cláudia Falluh: Fatima, vous pouvez nous parler un peu de la trilogie Izuran, (Izuran I, Au pays des hommes libres, Izuran II, les enfants d'Ayye, Izuran III, La sublime porte. Alger: Editions Alpha. 2010.) Comment la mémoire surgit pour vous et qu'est-ce qu'elle représente dans vos romans?
Fatima Bakhai: Voici ce que j’ai écrit en exergue du roman '”Les enfants d’Ayye” (Ayye est le terme que l’on emploie pour désigner affectueusement une vieille dame que l’on aime, en général la grand-mère...) Ce roman est le second tome d’une trilogie qui a pour titre Izuran. Izuran signifie en berbère “Racines” Cette trilogie est une saga qui raconte l’histoire du peuple algérien depuis le néolithique jusqu’à la veille de l’occupation française. Après, l’histoire est plus connue et j’en ai traité dans d’autres romans. “L’histoire de mes ancêtres n’intéresse sans doute que moi. Les autres descendants ne veulent pas la connaitre. Cette histoire les gêne. Elle les oblige à se regarder sous un autre angle...qui les dérange! Ils préfèrent la stabilité et le confort d’une histoire immédiate qui occulte les épopées vécues par ces aïeux dont on ne revendique pas la mémoire: une réticence atavique, comme un secret honteux dont on ne connait plus très bien les détails et dont la seule évocation sème un trouble diffus que ll’on s’empresse de nier! Génération après génération, depuis l’aube des temps, ils ont pourtant vécu ces ancêtres, emportés par la tourmente d’un destin qu’ils n’avaient pas prévu. Trop peu nombreux sur une terre immense, trop rebelles à toute autorité, ils n’ont pas su, pas pu s’unir. Ces Imazighen, ces “hommes libres” comme ils aimaient à se désigner, n’osaient pas s’affranchir de leurs tribus. Ils se battaient pour des libertés qui engendraient la dépendance. Mais, s’ils ont été souvent vaincus, ils n’ont jamais perdu leur âme...”
Cláudia Falluh: C'est grâce aux historiens et à la littérature que l'histoire d'un peuple peut être toujours revisitée. A votre avis, Izuran, entre réveille la mémoire des Algériens, envers son histoire richissime qui antecède la conquête musulmane, mais qui risque de se perdre?
Fatima Bakhaï: C’est un des problèmes des algériens: ne pas s’approprier leur Histoire dans son intégralité! C’est à dire aller au-delà de la conquête musulmane! Dans Izuran j’essaie par le biais romanesque d’expliquer d’où viennent par exemple certaines de nos traditions, de nos coutumes etc... Je ne suis ni historienne, ni ethnologue bien sûr. Je ne passe pas par la science mais par l’émotion. Je ne me sens investie d’aucune “mission par rapport aux ancêtres” mais il me semble que savoir d’où l’on vient, qui on est vraiment, réconcilie, unit et aide à aller de l’avant.
Com extrema gentileza, Fátima Bakhai enviou-nos um belo texto que os leitores poderão ler abaixo, um conto para crianças "L'oiseau aux mille couleurs". Fatima nos diz a respeito deste conto:
Fatima Bakaï: . Quant aux histoires pour enfants qui ont un but clairement éducatif je ne résiste pas à vous envoyer l’une d’elles que j’ai écrite en pensant au Brésil alors que rien ne prévoyait mon voyage!
Grand merci, Fatima Kadi-Bakhaï! Vous êtes toujours la bienvenue au Brésil!
Outros romances de Fatima Bakhaï:
Oran après la mer, (Après la Lune, 2011)
Dounia. ( L'Harmattan)
H I S T O I R E D E
L’O I S E A U A U X M I L L E
C O U L E U R S
Un jour, un voyageur rapporta de
terres lointaines, un bel oiseau inconnu. Il le plaça dans sa volière et se
plaisait à le faire admirer par tous ses amis :
-Voyez comme il est
beau, disait-il, les couleurs de son plumage sont féériques et son chant
absolument sublime ! C’est une espèce rare, ajoutait-il.
L’oiseau aux mille
couleurs, en entendant ainsi vanter ses mérites, s’étonnait chaque
fois : « Comment peut-il affirmer que je fais partie d’une
espèce rare, se demandait-il, dans mon pays, il y a des milliers d’oiseaux
comme moi. Mes couleurs n’ont rien d’extraordinaire non plus, il y en a de bien
plus belles, quant à mon chant, mes frères se moquaient toujours de moi en
prétendant qu’il manquait d’harmonie ! Il faut croire qu’en changeant de
contrée j’ai aussi changé de qualités ! »
Or, l’oiseau aux
mille couleurs ne croyait pas si bien dire car, dans la volière, les oiseaux,
qui y étaient tous nés, l’observaient depuis son arrivée.
-Avez-vous vu le
nouveau ? Chuchota un jour le perroquet gris, je le trouve bien
prétentieux, pas une seule fois il ne s’est adressé à nous !
-Peut-être, dit le
petit serin jaune, ne comprend-il pas notre langue !
-Tout de
même ! répliqua l’ara bleu, il pourrait faire un effort !
-C’est vrai ! Enchaîna
la perruche, il ne peut prétendre vivre parmi nous sans connaître notre
langue !
-J’ai entendu dire,
ajouta le cacatoès, que tous ces oiseaux venus d’ailleurs ne sont pas très
intelligents, enfin, pas comme nous ! Voyez son bec, il est large et
aplati avec comme une bosse dessus, c’est un signe d’arriération et c’est
affreux !
-Et son
plumage ! reprit le perroquet gris, toutes ces couleurs mélangées, quelle
vulgarité !
L’oiseau aux mille couleurs
entendait tout, comprenait tout mais ne disait rien. Il aurait pu parler mais
il savait que son accent aurait encore fait l’objet de railleries cruelles.
L’oiseau aux mille couleurs souffrait et sa souffrance était profonde. Il
regrettait d’abord amèrement d’avoir succombé à la convoitise. Dans sa forêt
natale, au-delà des mers, il n’avait pu résister à l’attrait d’une pomme.
C’était pour lui un fruit nouveau. Son parfum délicat, sa forme, sa couleur lui
avaient fait perdre la notion de danger et, pour s’en saisir, il s’était avancé
sans voir le piège dans lequel elle était posée. La cage s’était refermée d’un
coup sec.
C’est ainsi que
l’oiseau aux mille couleurs avait changé de continent. Ici, tout était
différent : les arbres et les fleurs, les bruits et les odeurs et le ciel
et le goût de l’eau et la pluie et le vent. L’oiseau aux mille couleurs avait
froid, il avait faim aussi car il n’arrivait pas à s’habituer à la nourriture.
Les graines étaient fades, les fruits insipides et les vermisseaux sans
consistance aucune. Alors, l’oiseau aux mille couleurs s’installa sur la plus
haute branche d’un vieux chêne et resta là, sans bouger, la tête sous son aile
pour ne rien voir, ne rien entendre. Quand il avait trop pleuré, il fermait les
yeux et tentait de retrouver dans ses rêves sa forêt natale, ses parents, ses
amis, les jeux et les rires, les chants de l’aube et ceux du crépuscule, la
terre généreuse où il suffisait de gratter pour s’offrir un festin.
Un jour, le petit
serin jaune voleta jusqu’à lui.
-
Me permets-tu, lui dit-il, de me
poser sur ta branche ?
-
Si cela peut te faire plaisir, je
n’y vois pas d’inconvénient, répondit l’oiseau aux mille couleurs un peu
étonné.
-
Mais tu t’exprimes très
bien ! s’exclama le petit serin, pourquoi ne nous parles-tu jamais ?
-
Parce que vous ne voulez pas
m’écouter tout simplement ! J’ai entendu toutes vos conversations à mon
propos, vous ne voulez pas de moi et il me serait bien difficile d’imposer ma
présence !
-
Oh ! je comprends, soupira le
petit serin, tout ceci est bien triste !
Il
se tut quelques instants et reprit :
-Veux-tu
être mon ami ?
-Tu
es gentil, petit oiseau jaune, mais je crains que mon amitié ne te porte
préjudice auprès des autres oiseaux de la volière !
Le
petit serin, tout content, se mit à rire et son rire était comme les premières
gouttes de pluie bienfaisantes après la sécheresse. Pour la première fois
depuis qu’il était dans ce pays, l’oiseau aux mille couleurs sourit.
-Tu
sais ; dit le serin, je suis né dans cette volière et mes parents y sont
nés aussi. Je ne connais rien d’autre que ce paysage. J’aimerais tant que tu me
racontes ton pays, ta forêt, les montagnes et les vallées, les fleuves et les
océans !
L’oiseau
aux mille couleurs éprouva une grande tendresse pour ce petit serin. Il lui
caressa la tête du bout de son aile où le soleil allumait des flammes d’or et
promit :
-
C’est d’accord, petit oiseau
jaune, si tu veux, je te raconterai ce que j’ai vu, ce que je crois savoir et
ce que je sais vraiment.
Et
ainsi, chaque jour, le petit serin jaune venait écouter les histoires de
l’oiseau aux mille couleurs. Il s’émerveillait souvent, éprouvait parfois de la
peine mais ne se lassait jamais. Or, dans la volière, les habitants avaient
remarqué les allées et venues du petit serin et cela ne leur plaisait pas du
tout. Ils le surveillèrent, le suivirent et un jour, la perruche verte
l’interpella :
-
Nous savons que tu fréquentes
« l’étranger » et nous tous, ici, nous nous inquiétons beaucoup pour
toi.
-
Vous avez tort, répondit le petit
serin jaune, et je vous trouve bien méchants de le mettre ainsi en
quarantaine !
-
Oh ! le petit
impertinent ! s’exclama la perruche verte, et elle prit à témoins tous les
autres oiseaux, voyez comme il est insolent ! c’est sûr, cet étranger de
malheur a une mauvaise influence sur notre petit serin d’habitude si
gentil !
-
Non ! non ! s’écria le
petit serin, je n’ai pas changé envers vous mais je vous trouve tout de même
injustes ! L’oiseau aux mille couleurs souffre beaucoup à cause de votre
attitude. Il vient de loin et ne connaît personne ici mais il sait des choses
que vous ne soupçonnez même pas ! Il a voyagé, il parle plusieurs
langues ! Ses habitudes, ses traditions sont différentes des nôtres, c’est
vrai, mais elles n’en sont pas moins respectables et puis…
Mais
le petit serin n’eut pas le temps de terminer sa phrase. Un oisillon, tout
juste né, venait de tomber de son nid et ses parents poussaient des cris de
douleur déchirants. Tous voulurent se porter à son secours mais ils
s’arrêtèrent soudain avec des tremblements d’horreur : au sol, glissant
lentement et silencieusement sur les feuilles mortes, un énorme serpent noir,
sûr de lui, se dirigeait vers l’oisillon. C’est alors qu’on entendit un cri que
nul n’avait jamais entendu. L’oiseau aux mille couleurs qui avait vu toute la
scène plongea comme un météore sur le serpent surpris, enserra son cou dans son
bec puissant et ne lâcha prise qu’au moment où le serpent, vaincu, demanda
grâce et s’enfuit à toute vitesse. L’oisillon était sauvé. Tous, encore choqués
par la tragédie qu’ils venaient de vivre se taisaient mais le petit serin jaune
brisa soudain le pesant silence :
-Bravo !
Bravo ! s’écria-t-il, fou de joie.
Les
autres se regardèrent, penauds, puis, le père de l’oisillon, l’oryx qu’on
appelle aussi le grenadier, s’adressa à l’oiseau aux mille couleurs :
-
Oiseau venu de loin, dit-il très
ému, je te remercie. Je te serai éternellement reconnaissant et permets-moi, à
partir de ce jour, de t’appeler mon ami.
Tous
les oiseaux poussèrent des cris
d’allégresse. On demanda pardon à l’oiseau aux mille couleurs, on le porta en
triomphe, on lui offrit des cadeaux… Tous voulaient entendre ses histoires.
L’oiseau aux mille couleurs était enfin admis et son bonheur était immense.
-
Au fait, dit la perruche verte au
petit serin jaune quand le calme fut revenu, tu n’avais pas terminé ta phrase
tout à l’heure, que voulais-tu nous dire ?
Le
petit serin jaune eut un sourire coquin,
se fit un peu prier puis révéla :
- Nous sommes tous nés ici, nos parents
aussi, mais les parents de nos parents et tous nos ancêtres viennent du même
pays que l’oiseau aux mille couleurs !