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Brasília, DF, Brazil
Cláudia Falluh Balduino Ferreira é doutora em teoria literária e professora de literatura francesa e magrebina de expressão francesa na Universidade de Brasília. Sua pesquisa sobre a literatura árabe comunga com as fontes do sagrado, da arte, da história e da fenomenologia em busca do sentido e do conhecimento do humano.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Lírica do desamor: Tahar Ben Jelloun



Veja o vídeo da entrevista sobre Que la blessure se ferme.
http://www.youtube.com/watch?v=u58qmdcN2tg
Ele é o poeta que diz, "... não comecei fazendo poemas de amor". Na verdade, a poesia de Ben Jelloun recolhe fragmentos de felicidade, pontas, uma aqui, outra acolá, de amores e paixões, mas sem abrir o coração para o canto apaixonado, denso e profundo, que animou o príncipe dos poetas renascentistas Ronsard, o iraquiano medieval Abu Nowâs, o sírio Adonis, entre milhares de outras vozes. Não.  Infelizmente, não... O poeta é econômico e o lirismo é parco, favorecendo antes o drama imperativo e inexorável de muitas de suas personagens em busca do amor, porém jamais amadas à saciedade, portanto mergulhadas no desalento e voltadas para um ódio ora inexplicável, ora justificado, mas sempre estranho. Ben Jelloun faz versos, como diz Bandeira,  "como quem chora de desalento, de desencanto".
Mas na mobilidade da obra de um autor, no curso da vida que se movimenta entre os fatos e as circunstâncias do vivido, e porque tudo muda e é natural e desejável que mude, muda também a poesia benjelouniana, ma non troppo....
Gallimard nos apresenta desde março Que la blessure se ferme, obra que se liga e pontua um antigo recueil de Ben Jelloun  chamado Les amandiers sont morts de leurs blessures.  O desejo do poeta é, segundo ele, que a ferida se feche. Neste recueil estão poemas que celebram o não-amor, a neutralidade diante do amor, o compasso daqueles que não amam mais, por já terem amado o suficiente e com isso terem se desapontado.
O autor homenageia o místico sufi persa al Hallaj (séc. X). Al Hallaj em um de seus versos de desalento dirá:  "Par orgueil je refusais le bonheur de l'amour. Et je subis le châtiment de l'orgueil". (Por orgulho recusei a felicidade do amor. E sofro o castigo do orgulho).
Lex talionis do amor. Resta a doçura poética, pra quem tiver a graça de encontrá-la.



sexta-feira, 18 de maio de 2012

Uma busca sagrada: Tahar Djaout



Junto com um parente, um jovem deixa o vilarejo e parte à procura dos restos mortais de seu irmão mais velho, morto em combate durante a guerra de Libertação na Argélia. É a primeira vez que ele sai de sua montanha Kabile.  Diante dele desvela-se o mundo violento dos adultos, em uma sociedade em mutação que passa da dominação colonial à soberania nacional. Ele encontra os despojos, porém isso não lhe confere alívio, tampouco o livra da angústia. Ao contrário outras questões surgem: porque levá-lo de volta e enterrá-lo naquele vilarejo que ele sempre odiara?

Este é o tema do livro Les chercheurs d’os, (Os campeadores de ossos, trad. livre) (Seuil, 1984, sem tradução para o português) do escritor argelino Tahar Djaout (1954-1993), e que o Grupo de Estudos Literários Magrebinos quer apresentar ao público brasileiro.


Esta obra singular de Djaout, assassinado em 1993, ainda que absolutamente impregnada dos sentidos políticos que emanam da história argelina é, antes, e primordialmente, uma porta de entrada aos misteriosos e instigantes temas derivados do sagrado. A busca que se desvela empreendida pelo herói é uma busca sagrada. Busca esta que nos remete à Odisséia, à busca de Telêmaco pelo pai desaparecido e que afirma ao sair de seu país para buscá-lo: “Se não encontrá-lo construir-lhe-ei um cenotáfio e a ele celebrarei as exéquias fúnebres.”

Para os gregos antigos, um cenotáfio correspondia a uma crença precisa: quando um morto não tinha sido regularmente sepultado, não podia atravessar o Estígio e gozar do descanso eterno. Assim nasceu o costume de erigir um túmulo vazio àqueles cujo corpo não fora possível encontrar. Um cenotáfio é o que mais tarde se chamou em Roma um Tumulus honorarius.

Tahar Djaout lança-nos a rede mágica da história, o lume de seus personagens magníficos e suas árduas tarefas. Dentro da história do adolescente em busca do irmão está contida uma gota preciosa da história humana, mesclada de misticismo e de sistemas que nos conduzem à sacralidade desta busca. Este tema reproduz as pegadas do passado, daqueles que estão engajados na busca dolorosa pelos seus entes que sabem desaparecidos. Neste aspecto, a obra de Djaout é ao mesmo tempo antiga e moderna. Ela está instalada na balança da história, que repete seus erros e dramas ao longo do tempo e sobre o dorso da raça humana sofredora e ansiosa, esperançosa, ainda que impermanente.

A obra de Djaout está em paralelo com a atualidade brasileira, em que os arquivos da ditadura serão abertos e surgirão muitas possibilidades de descobrir sob as camadas de cal e cinzas os que se foram sem terem ido realmente, porque insepultos, mas não esquecidos, portanto vivos em um outro plano.
Este Grupo de Estudos quer trazer à tona a obra de Tahar Djaout, não apenas em sua dimensão política, mas fazendo um aceno ao estudo dos conteúdos do sagrado que ela faz vibrar em seu corpo literário, envolto por luz e palavras.
Uma sugestão aos os leitores: que leiam à luz do sagrado, para que o texto se eleve das cinzas.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Os Mundos Marroquinos, de Mohamed Larbi Messari




Brasília é uma capital federal que guarda em seu seio "faces" do mundo inteiro representadas pelas embaixadas que acolhe. Sinal da integração e da amizade do Brasil com pátrias irmãs, dentre elas, o Marrocos.
O Grupo de Estudos Literários Magrebinos quer saudar hoje uma personalidade que esteve no Brasil e em sua passagem por Brasília prestigiou a cultura brasileira com seu trabalho, sua presença marcante entre as artes e a sua  imensa generosidade que integrou dois países amigos desde muito - o Marrocos e o Brasil. Queremos saudar o Embaixador,  jornalista, humanista, antigo Ministro da Cultura do Marrocos e escritor, o Sr. Mohamed Larbi Messari.  
Tive a honra de conhecê-lo ainda nos anos 1990, quando Embaixador de Sua Majestade Hassan II, e através dele que sempre esteve aberto aos pesquisadores e artistas, entrar em contato com escritores marroquinos como Tahar Ben Jelloun, Goncourt em 1987.

Dentre as inúmeras atuações do Embaixador Messari no Brasil, uma vai marcar sobremodo o panorama cultural: a publicação no Brasil de seu livro Mundos Marroquinos (Editora Contemporânea,1991).




Mundos Marroquinos é um mosaico que apresenta panoramas distintos do Marrocos, a sua projeção no mundo, sua diversidade e sua unidade. O autor delineia de forma muito precisa e ao mesmo tempo pitoresca e intelectual a dimensão dos pontos em que a história marroquina se entremeia com a história do Brasil, o enlace  e o surgimento de uma amizade profunda entre os dois países, a dimensão transatlântica do Marrocos, passando por episódios de história muito importantes e curiosos como aqueles que tratam do Rei Dom Sebastião, e de como um acidente marítimo foi prelúdio do estabelecimento de relações políticas entre o Brasil e o Marrocos, além de colocar à luz da atualidade a correspondência entre Dom Pedro II e Muley Abbas, um capítulo primoroso. Este é um livro fundamental para aqueles pesquisadores que desejam conhecer o Marrocos com fineza e grandiosidade de detalhes!

Mohamed Larbi Messari é  autor também do livro Mohammed V, d'un Sultan à un Roi. Esta obra, por sua vez explica como Mohammed V se tornou um lider nacional, após  a explosão da crise entre  o Palais Royal e o protetorado francês nos anos 1950, seguida à recusa do falecido rei em assinar uma série de leis elaboradas pelas autoridades coloniais, fato que o conduziu ao exílio, assim como membros de sua família.

O Embaixador Messari, foi indiscutivelmente uma ponte sólida e generosa entre intelectuais e pesquisadores brasileiros e marroquinos.
A ele saudamos com um salam wa leikoun brasileiríssimo carregado de axé, na esperança de revê-lo em breve!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A poesia magrebina sobre os mártires e o islã. Poésie maghrébine sur le martyr et l'islam.


Les portes de l’Islam.

 Cláudia Falluh Balduino. in: Calligraphie de la douleur. L'art et le sacré dans la poésie arabe sur le martyr. Saarebruck: Editions Universitaires Européennes. 2011.

Les portes de l’islam ne sont pas seulement celles qui laissent entrevoir les arcs ogivaux en faïence turquoise de la coupole de Masjid-i Shaykh Lutfallah, à Ispahan, dans l’Iran safavide[1], ou les cours du palais nasride[2] d’Alhambra, vision post-visigotique des royaumes d’Espagne. Ni non plus par les imposants portails de la citadelle d’Alep, exemple raffiné de l’architecture syro-islamique. On n’entrevoit pas davantage l’islam uniquement par la voie de la dynastie Abasside[3], héritière de Bagdad, régnante subtile à Samarra, ville sainte qui voit le monde du haut d’une ziggourat en spirale ou par la dynastie Samanide[4], régnante à Nishapur et Samarkand. Elles ne sont pas uniquement accessibles, les portes de l’islam, par les voies ouvertes par les Turcs seldjouqides[5] en Anatolie et en Iran. Ou bien par le modèle fatimide de l’Egypte, qui a érigé en forme de coquille  la façade de la Mosquée cairote d’al-Akmar, (1125), symbole de fécondité  et de renaissance, rêve marin   dans le désert récalcitrant. Aussi ce ne sont pas les seules portes d’entrée de l’islam, l’ensemble de minarets de Hagia Sophia, ou celui de la Grande Mosquée de Kairouan, ou la forêt de colonnes de la mosquée de Cordoue, ou les ogives de l’université bagdadienne d’al-Mustansiriya, ou bien la citadelle de Saladin. Ces sites sont des antichambres de lieux beaucoup plus profonds et secrets, qu’une lecture superficielle ignorerait parfaitement, perdue dans la contemplation de la plasticité féconde et profuse des volumes architectoniques et dans la succession dynastique glorieuse, mais aussi décadente, d’empires et de royaumes  érigés et tombés sous l’égide du croissant.


Les portes de l’islam sont formées et travaillées par une immémoriale vision de monde qui trouve dans le Livre sa vérité. Toutefois on n’ignore pas les sites qui ont accueilli les grands moments de la civilisation islamique. On y entre bercé par le dhikr, récitation extatique et mystique du coran qui murmure dans l’imaginaire du croyant, par les voix tantôt occultées, tantôt claires des maîtres de Karaouine, étoile de Fez, et des échos savants et rythmés de la madrassah de Karatay.
On pénètre dans l’islam par le verbe et par l’image, surtout par les poèmes illuminés de  Warkah wa Gulsah[6], ou par des peintures d’une copie du Makamat, de Hariri[7] et du Shah-nameh [8], de Firdûsî.





Les visions mystiques qui composent le sens d’Alam al-mithâl[9] exalté par les mystiques Ibn Arabi, et Jalal-u-din al-Rumi ont fait Goethe s’exclamer, comme un écho de l’ancienne Transoxiane “À Dieu est l’Orient !»[10]
Ces portes s’ouvrent franchement et avec hospitalité aux imaginaires en quête d’abri sous les beautés palpables à la sensibilité plus évidente de la scène primitive. Sensibilité qui dérive de l’Absolu, créateur de toutes les essences vitales qui régissent la religion, l’art et la littérature, car le prophète lui-même disait: “Dieu est beau et il aime la beauté”.[11]
Le cœur islamique, profonde émanation d’une vérité, est entrevu sous les trames verbales: une poétique unie à l’hétérogène esthétique d’une civilisation, à gérer le sens et le destin de l’entente.
On entre en islam par la profusion des contes de sa littérature, parmi lesquels les Mille et Une Nuits viennent exploiter les ambiances les plus secrètes et louches de la société musulmane. Ce sont des contes soutenus par la fantaisie de mondes souterrains occultés sous les carreaux que l’on hausse par des anneaux, jardin secret d’Aladin, et dont les arbres produisent des pierres précieuses. On  s’insère dans l’islam à travers l’érotisme, par la voie du mujûn[12], royaume des esprits libres qu’une dense société patriarcale célèbre en subversion à l’ordre tellement rêvé par le prophète. On passe par cette voie à travers l’œuvre des érotologues comme Ali al-Bagdadi (XIX) et ses Fleurs éclatantes. On est guidé par la main de Mohamad al-Nawadji (XVe), du cheik Nafzawi (XVe) et l’incomparable Prairie parfumée ou s’ébattent les plaisirs. Ce sont des mondes où des génies et des esprits – djinns et éfrits – fréquentent librement l’atmosphère nocturne pointée par les coupoles bagdadiennes et la pénombre des hammams[13], où les caustiques humeurs humaines sont transmutées en délice des sens.
Dans la modernité, on entre finalement dans le monde islamique, à travers le ton élégiaque de la poésie en l’honneur des martyrs.
De toutes les portes, l’hommage aux morts est la plus étroite. De tous les portails monumentaux, depuis Ishtar babylonien à Bab el had[14], dans la médine de Fez, le seul qui mène à la mémoire du martyre. Dans ces chants, le plus solennel et le plus intime: tragòs et pathòs indissociables dans la mémoire de la douleur. Celui qui se répète dans le temps, depuis les pleurs de Majnoun[15] sur le tombeau de Laila, les Croisées et jihad, à l’éloge aux morts de Tahar Ben Jelloun en La remontée des cendres.[16] De tous les islams, le plus douloureux, car la poésie élégiaque et son ton solennel jaillissent dans la modernité des turbulences du monde arabe qui laisse de coté, bien que par l’espace d’un poème, les piliers de l’islam, pour soustraire de l’oubli et de l’indifférence impérialiste, les victimes des conflits.
Par cette porte la poésie est perçue comme clameur caustique, commentée par des chants funèbres les dépouilles, les vols au Musée de Bagdad, ou dormait la Dame de Warka, les corps anonymes tombés sous la couche de gaz létal au Kurdistan, le souvenir de Sabra et Chatila, les milliers de martyrs de la guerre du Golf, l’éclat moral et social de l’occupation Palestine, périmètre obscure d’infernales violations.
Tel un gardien de cette singulière entrée en islam, voilà le poète. Hiérophante des mots, il célèbre en libation révérencielle la mémoire des martyres et son histoire.         
La poésie arabe sur les victimes de la guerre, porte archétypique de l’islam répète sans cesse dans les entrelignes de sa douloureuse conception, la notion islamique de l’impermanence de l’homme, ses luttes, et la pérennité de la miséricorde divine comme la seule capable de consoler les misères humaines, y compris les guerres.





[1] Dynastie  persane initiée (fondée) par le Shah Ismail, en 1502. La culture safavide a atteint son point le plus haut pendant le royaume du Shah Abbas I (1587-1629) qui en 1598 a transféré la capitale à Ispahan, au cœur de l’ancienne Perse, ou (où) elle s’est transformée dans le centre d’art et de la culture musulmane oriental pour(durant) presque deux siècles
[2] Dynastie arabe en Espagne indépendante du pouvoir califal de Bagdad (1232-1492); sa cour à Grenade a crée (créé) une culture qui atteindra un niveau de magnitude sans pareil en Espagne musulmane.
[3] Dynastie fondée par le Calife al-Mansur, lequel en 750 transfère la capitale de Damas (en Syrie) (vers l’Irak à Bagdad, la première ville entièrement fondée par des musulman est crée (créé) en  762. Apparemment les Abbassides ont détenu le pouvoir jusqu’au milieu du XIIIe, quand le dernier calife de la dynastie a été mort (tué) par les mongoles pendant le sac de Bagdad en 1258.
[4] Dynastie persane (874-999), fondée par le Shah Saman Khodat, noble zoroastrien.
[5] Dynastie turque originaire des peuples Oguz (X-XIII).
[6] Début du XIIIe, manuscrit illustré de la période Seldjouqide. Il s’agit d’un très important document qui prouve l’existence d’une école de peinture de livres des  XIIe et XIIIe.
[7] En árabe: reunions. Poète iraquien (m. 1122).
[8] Livre des Rois.  Poète persan né en 1380, à Tabriz.
[9] De l’arabe: monde imaginal (imaginaire). T.d.A.
[10] GOETHE, W. Le divan, Paris, Gallimard, 1984, p.2, traduction d’Henri Lichtenberger. « À Dieu est l’orient/À Dieu est l’orient/ dans les confins du nord et du sud/Reposent dans la paix de Ses mains ».
[11] Sahih Muslim.
[12] Genre érotique arabe.
[13] Bain turc
[14] Porte étroite.
[15] Thème de chansons, sonnets et d’odes d’amour des bédouins, la légende de “Laila e Majnoun a été originalement enregistrée en vers par le poète Nizami, au XII.
[16] BEN JELLOUN, Tahar, La remontée des cendres, Paris: Seuil, 1993.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Zélia Adghirne: escritores marroquinos em busca da indentidade

O Grupo de Estudos Literatura Magrebina Francófona da Universidade de Brasília apresenta a conferência da professora Dra Zélia Adghirni, realizada dia 24 de abril de 2012 no Departamento de Teoria Literária e Literaturas, intitulada: Escritores marroquinos e a busca de identidade.
Tendo vivido por oito anos no Marrocos, Zélia Adghirni nos comunicará de forma muito agradável, à vontade, rica e fundamentalmente muito humana uma visão deste surpreendente, misterioso e incrível país, seu povo, costumes, a situação das mulheres, as questões sobre a identidade, a fragilidade e a força das relações entre os homens e mulheres, a família no Marrocos e como isso tudo se realiza na literatura.
O ciclo de palestras que o Grupo inicia com Zélia Adghirni prestigiará panoramas sobre a literatura magrebina, bem como a civilização norte africana suas lutas e sua produção literária magnífica e fecunda.
Desejo ao nossos leitores e seguidores um bom momento  através desta maravilhosa conferência!